Segundo Ricardo Esparta, Chief Scientific Officer da BlockC, a presença do presidente eleito Luís Inácio Lula da Silva na COP 27, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, que ocorre de 6 a 18 de novembro no Egito, é alentadora pois deixa claro que nosso país tentará retomar o protagonismo de décadas como mediador na diplomacia climática global. Segundo Esparta, entretanto, isso não é suficiente para compensar uma péssima notícia: dados recentes reunidos pela ONU revelam que, mesmo que todos os países cumpram os compromissos do Acordo de Paris, a temperatura do planeta deve subir 2,5 graus até o final deste século -muito além dos 1,5 definidos pelos especialistas como limite para evitar o risco de grandes catástrofes.
“Todos os anos, o secretariado das Nações Unidas prepara documentos com a melhor informação disponível para subsidiar a conferência. Os documentos preparatórios para a COP 27 revelam que mesmo que todos os compromissos assumidos perante a convenção do clima sejam cumpridos, a temperatura média no final do século pode ficar até 2,5 graus Celsius acima da média global pré-industrial. Isso significa que os compromissos, como estão hoje, não são suficientes para reduzir riscos de catástrofes climáticas”, revela Esparta, que integra o painel de especialistas encarregados de revisar os inventários de emissões enviados à Convenção do Clima da ONU.
Graças à experiência de quem acompanha há mais de 20 anos as conferências anuais da ONU sobre mudanças climáticas, Ricardo Esparta consegue desenhar um panorama do que tem acontecido nas últimas edições do evento, e o que podemos esperar deste que se inicia. “O Acordo de Paris foi elaborado na COP 21, 2015 e entrou em vigor no final do ano 2016, na COP 22 no Marrocos. Foi um momento eufórico para quem se preocupa com as mudanças climáticas, mas que durou apenas poucos dias, pois foi durante a COP 22 que Trump foi eleito nos Estados Unidos, com a ameaça de sair do Acordo de Paris. No final de 2020, com a eleição do Biden sinalizando que os EUA voltariam ao acordo, as negociações ganharam impulso de novo. A COP 26 de Glasgow, em 2021, foi um evento mais político, em que vários chefes de Estado estiveram presentes para dar novo impulso às negociações. Esse é um movimento pendular, em que conferências mais políticas se alternam com outras, mais técnicas, como deve ser esta COP 27, quando as discussões devem ser sobre detalhes importantes como criar um mecanismo específico para compensar as perdas e danos causados pelos eventos extremos, ou pensar em como fortalecer metas nacionais frente a esse relatório recente que mostra que os objetivos acordados até aqui são insuficientes para manter o aquecimento em até 1,5 graus Celsius até o final deste século”, afirma Esparta.
Apesar da expectativa de que esta seja uma COP mais “técnica”, Esparta lembra que a presença do recém-eleito Lula e de outros chefes de Estado, como o presidente norte americano Joe Biden, promete atrair muita atenção para o encontro. O convite a Lula foi feito pelo presidente egípcio, Abdel Fatah al-Sissi, e pelo governador do Amapá, Waldez Góes (PDT), presidente do Consórcio de Governadores da Amazônia Legal, que participa do evento como ente subnacional. O governo federal brasileiro também enviará uma comitiva oficial, muito provavelmente sem a presença de autoridades de primeiro escalão. Depois de ter cancelado a COP 25 no Brasil, que deveria ter sediado o evento em 2019, o governo do presidente Bolsonaro nunca tratou a mudança do clima e, consequentemente, as negociações no âmbito da Convenção do Clima, como um tema relevante.